Em uma matéria sobre a ampliação do bairro judaico de Nof Tsion em Jerusalém Oriental dentro de um outro bairro árabe, a IstoÉ online fornece a seguinte informação aos leitores:
Ou seja, a IstoÉ passa a ideia de que a presença de judeus em Jerusalém Oriental era mínima em 1967 – “poucas centenas”, e após 50 anos sob governo israelense, a quantidade atingiu o número de 195 mil judeus. Acontece que a IstoÉ omite um contexto crucial: o que aconteceu antes de 1967.
Em 1948, Jerusalém – que até então em toda a história da humanidade nunca havia sido dividida – contava com uma população de 100 mil judeus e 40 mil árabes/muçulmanos. E naquela época, milhares de judeus viviam dentro da Cidade Velha e arredores, na parte oriental de Jerusalém. Ali vivia uma comunidade judaica próspera, em áreas que incluem o bairro judeu da Cidade Velha, a Cidade de David, o Monte do Templo, o Muro das Lamentações, a Universidade Hebraica e o Hospital Hadassah original.
Em 1949, os Acordos de Armistício declararam que Israel e Jordânia dividiriam geograficamente Jerusalém, por tempo provisório, e começariam a trabalhar juntos para o reinício do funcionamento de instituições, acesso ao cemitério judaico no Monte das Oliveiras (onde os judeus enterraram seus falecidos por mais de 2500 anos), e lugares sagrados. Mas a Jordânia violou o acordo e causou o exílio de todos os judeus da parte oriental da cidade, matando-os ou expulsando-os, além de cercar a área com arame farpado e muros de concreto.
Veja abaixo depoimentos de judeus sobreviventes dessa época, refugiados da expulsão de suas casas na Cidade Velha:
Em 1967, quando Israel retomou a parte oriental de Jerusalém, obviamente não havia judeus ali, pois por 19 anos eles foram impedidos de retornar, o que não significa que não estiveram ali por milhares de anos durante a história até 1949.
Matérias de jornais não precisam dar uma aula de história para seus leitores, não há espaço e tempo para isso. Mas quando se trata de passar estatísticas que moldam o entendimento do conflito, estas estatísticas não podem revelar meio contexto. E é exatamente isso que a IstoÉ faz quando provê números apenas de 1967 em diante, sendo que antes disso há acontecimentos decisivos para entender a complexidade da questão de Jerusalém Oriental.
O resultado é o entendimento de que simplesmente não havia muitos judeus ali antes, e, talvez, como “invasores” pós-1967, eles não sejam merecedores daquela parte da cidade.
O HR entrou em contato com a IstoÉ para pedir modificações.
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