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Trauma e Terror: A Visão do Sul Israelense

Por Simon Plosker, Editor-Chefe do HonestReporting. O barulho ao pisar me fez estremecer. Em meio aos destroços, estavam os pertences dos moradores de um prédio de quatro andares na cidade litorânea israelense de Ashkelon. Vidro…

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Por Simon Plosker, Editor-Chefe do HonestReporting.

O barulho ao pisar me fez estremecer. Em meio aos destroços, estavam os pertences dos moradores de um prédio de quatro andares na cidade litorânea israelense de Ashkelon.

Vidro quebrado, brinquedos infantis, uma garrafa de esmalte vermelho, até mesmo uma bicicleta, todos espalhados pelo chão, a luz do dia entrando por um enorme buraco na parede que dava para a rua abaixo. Senti como se estivesse profanando a propriedade das famílias que haviam evacuado o prédio após um ataque direto de um foguete palestino.

Eu estive lá para ver a situação por conta própria junto à multidão de jornalistas, tanto israelenses quanto estrangeiros, subindo as escadas do prédio bombardeado, olhando através de portas abertas, documentando a destruição.

Morte e destruição em Ashkelon

Este bairro em particular era uma das partes mais pobres da cidade. O prédio, antes da explosão do foguete, era velho e acabado, um produto dos anos 50, quando Israel teve que construir blocos residenciais em massa para abrigar milhares de novos imigrantes que entravam no país. Enquanto todas as novas residências israelenses têm um abrigo antibombas por lei, este e outros edifícios circundantes não têm nenhum. Um abrigo público do lado de fora ficou lotado.

Trinta segundos.

Esse é todo o tempo que você tem para se proteger ao ouvir a sirene alertando sobre um ataque de foguete iminente. Tendo que pegar duas crianças que dormiam e correr para o meu próprio quarto anti-bomba no conflito com Gaza, em 2014, tentei imaginar como seria fazer a mesma coisa com um minuto a menos (devido à proximidade de Gaza). E o que aconteceria se eu fosse mais velho, talvez incapaz de correr.

Trinta segundos.

Claramente não foi o suficiente para os moradores deste prédio, vários dos quais ficaram feridos.  Entre as pessoas que circulavam pela rua, havia uma sensação palpável de raiva, não apenas dos terroristas que haviam enviado os foguetes, mas também das autoridades israelenses, que elas acreditavam não ter conseguido garantir sua segurança.

Eu continuei subindo para o apartamento do quarto andar, onde Mahmoud Abu Asabeh, de 8 anos, morreu enterrado sob os escombros. Manchas de sangue frescas podiam ser vistas na parede, ou de Abu Asabeh ou da mulher que se feriu gravemente quando estava com ele.

Eu me senti entorpecido.

Talvez o Domo de Ferro tenha trazido alguma complacência ao longo dos anos de foguetes palestinos. Mas ali estava a prova de que nem o sistema de defesa tecnologicamente mais avançado oferece 100% de proteção.

De fato, se não fosse pelo Domo de Ferro e os abrigos, as baixas israelenses seriam significativamente maiores. Isso é algo que a mídia tende a ignorar quando números de vítimas desequilibrados são usados ??como um barômetro moral.

Mais trauma para Sderot

Em Sderot, Yonatan Yagodovsky, representante do Magen David Adom (MDA) – organização médica de emergência de Israel – explicou como entre os feridos houve pessoas tratadas por distúrbios de estresse e pânico. Isso não é resultado apenas desta última escalada, é um problema de longo prazo que afeta os moradores da região, submetidos à ameaça de foguetes e morteiros há muito tempo.

Ele também explicou como todos os recursos do MDA foram totalmente implantados e tiveram que ser constantemente reabastecidos. Alguns socorristas estacionaram na frente de casas de voluntários, prontos para responder a qualquer minuto a uma emergência médica.

Lá também vi os resultados de três toneladas de gás propano que queimaram por cerca de 15 horas em um dos quatro locais atingidos. O vice-prefeito de Sderot, Elad Kalimi, explicou que, embora o Domo de Ferro tenha interceptado um foguete, um pedaço dos destroços caiu em uma padaria, provocando um incêndio e causando grandes danos. Felizmente ninguém foi ferido, mas novamente, não por falta de tentativas por parte do Hamas.

Uma padaria incendiada, em Sderot, depois de um ataque de foguete.

Kalimi enfatizou como as pessoas em Sderot vêm vivendo essa situação anormal por 15 anos. Ele disse que todos os seus seis filhos estavam sofrendo distúrbios de estresse. “É pior que a guerra”, disse ele, descrevendo como as crianças que crescem em Sderot passam constantemente da rotina para a emergência e de novo para a rotina. Até mesmo sua filha mais nova correu com medo para o abrigo na semana anterior, quando pensou que o som de uma tempestade era a chegada de foguetes.

‘Tzeva Adom’

Muitos israelenses, especialmente no sul, têm um aplicativo em seus celulares que alerta para a chegada de foguetes. Enquanto o bombardeio continuou ao longo do dia, de alguma forma o grupo de jornalistas que acompanhei perdeu as sirenes. Foi só no caminho de volta, tendo parado para comer ao lado do Kibbutz Yad Mordechai, que experimentei brevemente o que milhares de israelenses sofreram.

Três choques no céu indicaram o disparo do Domo de Ferro mais próximo, seguido quase que imediatamente pelo anúncio robótico “Tzeva Adom” (Cor Vermelha) que levou todos a correrem para o lugar seguro mais próximo, no nosso caso, o banheiro do restaurante.

Jornalistas, funcionários e fregueses lotaram a pequena área perto das pias, para muitos deles uma ocorrência muito comum. Enquanto corríamos o mais rápido possível, não havia sensação de pânico, apenas o fatalismo que acompanha a experiência. Tendo passado por situações semelhantes tanto in loco para o HonestReporting, quanto na minha própria cidade, atacada por foguetes em 2014, isso não pareceu tão anormal quanto deveria.

Muitas mídias não conseguem cobrir adequadamente a situação anormal que foi normalizada ao longo dos anos. Embora jornalistas possam ter visitado durante uma escalada dramática, a realidade é que, quando esta última violência tiver diminuído, a cobertura também será afetada.  Os moradores do sul de Israel serão apenas uma nota de rodapé para os jornalistas, juntamente com o contexto que desaparece sempre: que Israel é forçado a lutar contra o terrorismo do Hamas que alveja sua população civil.

 

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