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EXCLUSIVO: Como Reportar de Israel Mudou Minha Visão de Mundo para Sempre

Em um artigo exclusivo para o HonestReporting, o jornalista estrangeiro Hunter Stuart conta como ele foi exposto às realidades de reportar de Israel, e teve suas visões pró-palestinas dramaticamente alteradas como resultado.   Eu sempre…

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Em um artigo exclusivo para o HonestReporting, o jornalista estrangeiro Hunter Stuart conta como ele foi exposto às realidades de reportar de Israel, e teve suas visões pró-palestinas dramaticamente alteradas como resultado.

 

Eu sempre quis ser jornalista. O jornalismo sempre me pareceu um trabalho tão importante, desafiando os preconceitos das pessoas, trazendo verdades difíceis ao público, a fim de mantê-los honestos e informados.

Desde que passei duas semanas no Egito quando adolescente – em janeiro de 2001, menos de um ano antes do 11 de setembro – sonhei ser um repórter freelancer no Oriente Médio. Fiquei fascinado pelo terrorismo, pela ideia de que alguém poderia acreditar em algo tão fortemente que daria sua vida por isso. Todo jornalista quer cobrir as grandes histórias, e eu pensei que o Oriente Médio era a maior história da Terra.

Então eu decidi ir. Em 2015, aos 32 anos, minha esposa e eu olhamos para um mapa do Oriente Médio e escolhemos Jerusalém como nosso novo lar. Não só a cidade era ocidentalizada e relativamente segura, mas estava a poucos passos do conflito mais divulgado do mundo. Naquele verão, deixamos nossos empregos em Nova York e nos mudamos para Israel.

O interesse público pelas notícias sobre Israel-Palestina quase não tem fim, e não foi difícil para mim encontrar trabalho depois de me mudar para Jerusalém. Rapidamente, comecei a vender histórias para as mídias nos EUA, no Reino Unido e na Austrália, bem como para a Al Jazeera em inglês, baseada no Catar.

Matti Friedman

Era óbvio para mim que a maioria dessas organizações queria notícias que enfatizassem o sofrimento dos palestinos e culpassem Israel por esse sofrimento. Como Matti Friedman, ex-editor do escritório em Jerusalém da Associated Press, escreveu no The Atlantic em 2014, a mídia vê “a história de Israel” como uma história do fracasso moral dos judeus. Eventos que não suportem essa narrativa geralmente são ignorados.

Eu estava satisfeito em contar esta história nos meus primeiros meses em Israel, porque eu também acreditava nelas. Como escrevi recentemente na revista The Jerusalem Report, eu tive uma visão profundamente negativa do Estado judeu até me mudar para lá. Eu cresci em uma cidade WASP da Nova Inglaterra onde todos são democratas liberais. Por algum motivo, a hostilidade em relação a Israel é uma opinião automaticamente liberal nos EUA (e em grande parte da Europa). Como produto do meu meio, eu acreditava que Israel era um “valentão” e o principal obstáculo para a paz no Oriente Médio.

Mas assuntos estrangeiros sempre parecem diferentes quando se tornam locais, e em nenhum lugar isso é mais verdadeiro do que em Israel. Comecei a ver aquela tarde ensolarada, não muito tempo depois de me mudar para Jerusalém. Naquele dia, eu fui cobrir um protesto palestino em uma prisão israelense perto de Ramallah. Um repórter para o The Independent e eu dirigimos até lá e encontramos um grupo de cerca de 100 manifestantes palestinos que caminhavam para a prisão.

Quando chegaram, cerca de meia dúzia de soldados israelenses vieram ao encontro deles. Os palestinos rapidamente montaram uma barreira de pneus em chamas para evitar que os israelenses escapassem. Mais e mais manifestantes chegaram – eu não sei de onde – mas logo os vi se amontoando sobre as colinas acima da prisão, vestidos com máscaras e keffiyehs. Era como uma cena do Game of Thrones. Alguns tinham facas em seus cintos, outros trouxeram ingredientes para coqueteis molotov. Eles ocuparam posições nas colinas acima da prisão e começaram a usar poderosas estilhas para lançar pedras e pedaços de concreto nos seis ou mais soldados israelenses embaixo. Os israelenses estavam em tanta desvantagem que eu não podia deixar de questionar a narrativa de que Israel era Golias e os palestinos eram David, porque na minha frente parecia exatamente o oposto.

 

Jornalistas fotográficos documentam motins de manifestantes palestinos no bairro árabe de Silwan, no leste de Jerusalém; parte de um ensaio fotográfico que descreve o que toda a mídia mainstream evita documentar: a presença do fotógrafo e sua influência sobre os eventos. Foto de Ruben Salvadori / Flash 90

 

Quando visitei a Faixa de Gaza alguns meses depois, novamente eu vi a diferença entre a forma como os jornalistas retratam um lugar e a realidade. Lendo sobre Gaza nas notícias, você pode pensar que todo o lugar é um entulho, que parece mais ou menos como Homs ou Alepo. Na verdade, Gaza não difere em sua aparência de qualquer outro lugar no mundo árabe. Durante oito dias na Faixa, eu não vi um único edifício danificado pela guerra até que pedi especificamente a minha guia que me mostrasse um. Em resposta, ela me levou a Shujaya, um bairro da Cidade de Gaza, que é uma conhecida fortaleza do Hamas e ainda está visivelmente danificada pela guerra de 2014.

A destruição em Shujaya era chocante? Sim. Mas era muito localizada, e não espelhava em nada o resto de Gaza. O resto de Gaza não é tão diferente de muitos países em desenvolvimento: as pessoas são pobres, mas conseguem viver, e mesmo se vestir bem e serem felizes na maioria do tempo. Na verdade, existem partes na Faixa que são bastante agradáveis. Saí para comer em restaurantes onde as mesas são feitas de mármore e os garçons usam coletes e gravatas. Eu vi imensas moradias na praia que não ficariam atrás em Malibu, e – do outro lado da rua dessas moradias – visitei uma nova mesquita de 4 milhões de dólares.

Os habitantes de Gaza sofrem algumas grandes dificuldades? Pode apostar. A maioria deles está vivendo em edifícios destruídos, a céu aberto, como a mídia os retrata frequentemente? Absolutamente não. Eu não os culpo por suas mesas de mármore ou suas moradias ao lado da praia. Como qualquer outra pessoa, eles querem se sentir confortáveis, aproveitar a vida. Mas acho estranho que, de vez em quando, as organizações de notícias estrangeiras não considerem oportuno publicar um artigo sobre os bairros ricos de Gaza ou as mesquitas de milhões de dólares. Mas não, elas preferem se concentrar na pequena minoria da Faixa que ainda está danificada da guerra com Israel em 2014 (uma guerra que, a propósito, o Hamas começou) porque é isso que confirma a narrativa de que Israel é uma superpotência brutalizando árabes para seus próprios propósitos egoístas, e essa é a narrativa que muitas pessoas querem ouvir.

 

Hunter Stuart (Crédito da foto: Damon Dahlen / HuffPost)

 

Sem contar o fato de que a liberdade de imprensa em Gaza e em outros países do mundo árabe é praticamente inexistente. De muitas maneiras, tentar reportar de Gaza era um esforço absurdo e perigoso. Durante uma única semana em Gaza, eu tive problemas em duas ocasiões distintas com o Hamas por quebrar suas regras rígidas para a imprensa. Na primeira ocasião, minha guia e eu estávamos no calçadão da praia na cidade de Gaza, entrevistando as pessoas sobre uma próxima eleição em Gaza (que depois foi cancelada, não surpreendentemente, já que a maioria dos líderes árabes odeiam a democracia). Depois de cerca de 15 minutos, um jovem de camiseta e calças largas se aproximou de nós e teve uma conversa aparentemente desagradável em árabe com minha guia, após a qual ela me disse que tínhamos que sair dali imediatamente porque o homem era um oficial de inteligência do Hamas que ficou descontente conosco perguntando às pessoas questões políticas.

Na segunda ocasião, minha guia e eu estávamos fotografando edifícios destruídos em Shujaya quando dois soldados do Hamas, nenhum dos quais poderia ter mais de 25 anos, literalmente correram para o nosso carro, pegaram nossas IDs, confiscaram minha câmera e escoltaram-nos para um quartel militar onde um grupo de funcionários do Hamas nos questionou amplamente sobre quem éramos e o que estávamos fazendo tirando fotos lá. Eles examinaram todas as fotos da minha câmera antes de nos deixarem sair. Minha guia estava visivelmente abalada. Eu não podia culpá-la: o Hamas muitas vezes prende, bate e, às vezes, tortura jornalistas que dizem coisas que fazem eles parecerem ruins.

 

* * *

Enquanto vivi em Israel, notei que muitos jornalistas pareciam olhar a si mesmos como defensores. Eles falavam do jornalismo como uma forma de dar voz ao perdedor, e para muitos deles, os palestinos eram o perdedor. O bom jornalismo, é claro, não advoga. Ele diz a verdade, independentemente de quem pareça ser bom ou ruim. Porque a verdade não tem sentimentos.

Considerando isso, talvez não seja surpreendente que os repórteres em Israel e nos territórios palestinos tendam a estar próximos dos funcionários das agências de direitos humanos. Eles correm nos mesmos círculos sociais, saem para comer e beber juntos. Talvez seja por isso que quase todos os artigos na internet sobre Israel contenham uma citação das Nações Unidas, da Anistia Internacional, da Human Rights Watch ou de outras ONGs desse tipo. Como repórter, é fácil citar esses grupos porque eles fornecem todas as informações que você precisa, de uma maneira acessível e facilmente compreensível.

Eu admiro muito do trabalho que essas ONGs fazem. O problema é que elas geralmente agem de uma forma tendenciosa contra Israel. Muitas vezes, eles colocam a culpa do sofrimento palestino em Israel, em vez de, digamos, na insensibilidade e na corrupção dos líderes palestinos, que claramente carregam grande parte da culpa pela dor do povo. Cada um desses grupos têm sua própria agenda, mas como sua pessoa pública apela, e uma vez que eles se expressam como porta-vozes dos oprimidos, a maioria dos liberais que vivem nos EUA e na Europa acredita em sua palavra.

 

* * *

 

Trabalhar como repórter em Israel durante um ano e meio não destruiu minha fé no jornalismo. Mas aumentou meu ceticismo de que ele possa fazer o bem no mundo. Oito anos de trabalho para as mídias de notícias me deixaram cada vez mais alarmado com a forma como o jornalismo está se tornando partidário. Atualmente, as editoras de notícias visam a geração Y em mídias sociais que preferem ver suas próprias opiniões validadas do que ver um artigo equilibrado e objetivo. Esse público não quer que os seus preconceitos sejam desafiados. Se a mídia existe apenas para reafirmar o que já acreditamos, só nos tornaremos mais divididos, e haverá apenas mais e mais conflitos no mundo.

 

Hunter Stuart é jornalista e escritor com mais de 8 anos de experiência profissional, atualmente trabalhando como Editor Sênior na Dose Media em Chicago. Ele foi repórter e editor do The Huffington Post, em Nova York, de 2010 a 2015. Mais recentemente, ele passou 1,5 anos trabalhando como repórter freelancer no Oriente Médio, de onde escreveu para Vice, The Jerusalem Post, Al Jazeera em inglês, International Business Times e outros. Seus artigos também apareceram na CNN, Pacific Standard, Daily Mail, Yahoo News, Slate, Talking Points Memo e The Atlantic Wire.

 

Crédito da foto: Fotos de Ruben Salvadori / Flash 90

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