Em artigo sobre uma possível transferência da Embaixada de Honduras para Jerusalém, o jornal O Globo fez um breve e falho resumo do cenário geopolítico da cidade e seus arredores. Vejam bem:
Cisjordânia, uma terra sem “dono”
A Cisjordânia nunca foi um território oficial e integralmente palestino. Sua área fora designada pela ONU em 1947 para compor um Estado árabe, mas o plano nunca foi concretizado por conta da recusa árabe e início da Guerra de 1948.
Em 1949, a Cisjordânia ficou sob poder da Jordânia até o fim da Guerra de 1967 quando Israel conquistou a área em uma guerra defensiva, após a Jordânia atacar o Estado judeu deliberadamente. Nos anos seguintes Israel foi se retirando aos poucos em diferentes acordos para a paz.
Uma vez que a soberania sob a Cisjordânia nunca foi reconhecida pela comunidade internacional como sendo jordaniana nem israelense, a Cisjordânia tem sido um território em disputa desde o fim do Mandato Britânico.
Os acordos interinos entre Israel e a OLP de 2000 estipularam pela primeira vez oficialmente, quem controlaria porções específicas do território que foi dividido em três: Zona A, principais áreas árabes, controlada civil e militarmente pela Autoridade Palestina (AP); Zona B, cidades e vilas palestinas onde a AP exerce o controle civil e o Exército de Israel (IDF), o controle militar; e Zona C, considerada ainda em disputa, onde estão os assentamentos israelenses.
Afirmar que a Cisjordânia é um território palestino é historicamente falso e desinforma os leitores.
Jerusalém oriental e o mito das duas cidades
Quanto à Jerusalém oriental, a forma como o jornal resume sua “história”, passa a imagem de que essa metade da cidade sempre esteve separada até que foi anexada, além de dizer que ela é exclusivamente árabe, o que não é verdade.
Faltam muitas informações nesse “contexto” para que o leitor entenda o que aconteceu com Jerusalém.
Israel não simplesmente anexou Jerusalém oriental, mas unificou Jerusalém, que desde milhares de anos atrás até 1949 sempre fora uma única cidade, sem divisões.
Em 1947, o Mandato Britânico passou o controle de Jerusalém para as Nações Unidas que teria continuado regendo a cidade se os árabes não tivessem recusado o Plano de Partilha e atacado Israel em 1948.
Jerusalém nunca fora dividida em Ocidental e Oriental, mas depois do acordo de 1949, a cidade foi cortada pelo exército jordaniano com barreiras de concreto e arame farpado, impedindo quaisquer israelenses (judeus e, inclusive, árabes) de entrar no seu lado do armistício. Em 1967, Israel apenas colocou estas barreiras abaixo, e liberou o acesso de todos os povos à parte oriental da cidade.
A parte oriental de Jerusalém não é a “parte árabe da cidade” e nunca foi exclusivamente árabe fora do período de 19 anos em que esteve cercada pelo exército da Jordânia.
Judeus viviam no leste de Jerusalém muito antes desse período. Quando a Jordânia invadiu e ocupou Jerusalém oriental, ela tomou também o bairro judaico da Cidade Velha e os locais sagrados judaicos como o Muro das Lamentações e muitas sinagogas. Isso provocou a expulsão e a aniquilação de milhares de residentes judeus.
Após a reunificação da cidade em 1967, judeus (e outros povos e religiões) puderam voltar a frequentar e morar no leste de Jerusalém. Então, apesar da maioria de residentes palestinos, também remanescentes da ocupação jordaniana, Jerusalém oriental nunca foi o enclave exclusivamente árabe que o jornal O Globo afirma para seus leitores.
O HonestReporting contatou o jornal O Globo para pedir mudanças.