A jornalista Ana Cárdenes resolveu explicar ao público por que o ano de 2017 é tão emblemático para o conflito entre Israel e palestinos. Da agência EFE, sua matéria “Ano de 2017 será repleto de simbolismos para Israel e Palestina” apareceu também no UOL, no Yahoo Notícias e na Exame. Mas ao invés de explicar por que alguns acontecimentos históricos que fazem aniversário este ano foram tão decisivos para o curso do conflito, a jornalista apenas se aproveitou da época para difamar o Estado de Israel com mentiras e omissão de informações importantes. Vejamos:
O ano de 2017 estará carregado de simbolismo em Israel e na Palestina, com aniversários de fatos que marcaram região: 100 anos da Declaração de Balfour, 70 anos do plano da ONU de partilha da Palestina, 50 anos da ocupação da Faixa de Gaza por Israel, 30 anos da Primeira Intifada e 10 anos da divisão palestina e do bloqueio a Gaza.
O primeiro erro grotesco de Ana: “50 anos da ocupação da Faixa de Gaza”. Aqui há duas possibilidades: ou ela não sabe a diferença entre Faixa de Gaza e Cisjordânia ou não sabe que Israel já se retirou integralmente da região há mais de 10 anos.
Mas continuemos.
A jornalista explica então sobre a Declaração de Balfour e como os palestinos vêm neste ato a “responsabilidade da comunidade internacional pelo início do conflito”. Ou seja, 100 anos depois, os palestinos mostram estarem ultrajados com um documento que possibilitou a criação de um Estado judeu na Palestina – em qualquer lugar da Palestina, não importa aonde. Além disso, eles enxergam os ingleses como responsáveis pelo início do conflito e não os países árabes, que rejeitaram o Estado oferecido a eles pela ONU em 1947, e atacaram Israel um dia após a criação do Estado judeu.
E por falar na proposta de Partilha da ONU, eis a explicação de Ana:
…dividia a Palestina sob mandato britânico em duas partes, uma para Israel e outra para a Palestina, com Jerusalém sob controle internacional.
É preciso explicar para a jornalista que Israel e Palestina não são dois lugares diferentes, e que a ONU não propôs um Estado de Israel e um Estado da Palestina. Ela propôs um Estado judeu (que no ano seguinte receberia o nome de Israel) e um Estado árabe, e ambos estariam localizados na região da Palestina que também era composta pela Jordânia, sul do Líbano e sul da Síria.
Esse texto foi a grande conquista do sionismo e, do outro lado, a grande catástrofe para a população palestina, especialmente a que vivia nas áreas que passaram a fazer parte do novo país.
E os judeus que viviam nas partes alocadas ao Estado árabe, o que aconteceria com eles se os árabes tivessem aceitado a partilha e criado seu próprio país em 1947?
A aprovação da resolução 181 se deu com 33 votos a favor, 13 contra e dez abstenções, e resultou em revoltas e violência, além da declaração da independência de Israel, em 14 de maio de 1948. No dia seguinte, teve início a guerra árabe-israelense…
Não Ana Cárdenes, a aprovação da resolução da ONU não resultou em revoltas e violência aleatórias, a Liga Árabe não aceitou o plano de dois Estados e declarou que faria de tudo para que o plano não fosse posto em prática. Dito e feito, após a declaração da independência de Israel, 6 países árabes atacaram o Estado judeu dando início à guerra árabe-israelense de 1948. Mas quem começou a guerra, a jornalista não se importa em omitir.
Sobre o resultado da Guerra dos Seis Dias, Ana fala que “representou o começo da ocupação dos territórios palestinos” por parte de Israel. Faixa de Gaza e Cisjordânia nunca foram territórios palestinos. Poderiam ter sido se os árabes tivessem aceitado o plano da ONU, mas de territórios britânicos eles passaram para as mãos do Egito e da Jordânia.
As autoridades israelenses comemoram este ano a data como a reunificação de Jerusalém, que consideram desde então sua capital eterna e indivisível.
Não Ana, não foi em 1967 que Jerusalém passou a ser considerada uma capital indivisível por Israel. Jerusalém SEMPRE foi uma cidade única. Jerusalém nunca fora dividida em Ocidental e Oriental, mas cortada pelo exército jordaniano em 1949 com barreiras de concreto e arame farpado, impedindo quaisquer israelenses (judeus e árabes) de entrar no seu lado do armistício. Em 1967, Israel apenas colocou estas barreiras abaixo e liberou o acesso de todos os povos à parte oriental da cidade.
A matéria pula então para a criação do Hamas nos anos 80 e sua tomada de poder em Gaza, em 2006. Aqui entra outro fato deturpado pela jornalista:
A tomada de poder do Hamas na Faixa levou a outro fato que completa dez anos: a imposição por Israel de um ferrenho bloqueio por terra, mar e ar que isola o território e asfixia sua economia.
Israel não começou o bloqueio à Gaza porque o Hamas tomou o poder, mas sim porque mesmo durante o governo do Fatah na região, o Hamas e também a Jihad Islâmica fizeram chover foguetes no território israelense. Em 2007, Israel implementou o bloqueio para controlar o contrabando de materiais usados na guerra de terror contra o país, bem como a entrada de terroristas em seu território.
Finalmente, Ana termina sua insípida e infundada matéria alegando que 2017 “será um ano de lembranças que marcam a tragédia de uma região”. De fato, a região passou por tragédias e cada uma delas afastou os dois lados cada vez mais da paz, mas certamente não pelas mentiras que a jornalista coloca ao público. E por causa de jornalistas tão irresponsáveis como Ana Cárdenes, a tragédia da região apenas se fortalece.