Dois dias após o ataque terrorista no mercado Sarona em Tel Aviv, O Globo impresso dedicou parte de seu espaço a uma matéria um tanto conturbada que colocava lado a lado uma descrição das quatro vítimas israelenses e dos dois terroristas palestinos.
Título da matéria? “As duas faces da dor”.
Para o jornal, a dor da perda dos quatro civis israelenses é equivalente à dor das consequências de ataques terroristas para as famílias de atacantes palestinos.
Na área de Hebron, as pessoas pagam um preço alto, no que diz respeito a mortes e incidentes. Isso provavelmente os influenciou — disse Musa Mahamra, conselheiro-chefe de Yatta e parente dos dois.
Seriam os dois lados realmente pertencentes à mesma moeda?
AS VÍTIMAS ISRAELENSES
Michael Feige, 58 anos, era chefe de Estudos sobre Israel na Universidade Ben-Gurion do Negev. Era sociólogo e antropólogo, e teve seu livro sobre o impacto dos movimentos ‘Gush Emunim’ (‘Coligação da Fidelidade’, de direita) e ‘Shalom Achshav’ (‘Paz Agora’, de esquerda) na sociedade israelense premiado como melhor livro de estudos sobre Israel. Uma de suas alunas o descreveu como um professor acessível, respeitoso e gentil.
Ilana Naveh era mãe de quatro filhas e comemorava seu aniversário de 40 anos com a família no café Max Brenner no momento do ataque. Seu vizinho afirmou que Ilana era “a melhor mulher do mundo”, dedicada à sua casa e filhas, sempre fazia almoço para os seus próprios filhos quando ele estava no trabalho. Ilana sofreu um infarto durante os disparos.
Ido Ben Ari, 42 anos, comia no restaurante Benedict com sua esposa e filhos quando os dois terroristas abriram fogo no café ao lado. Ele foi morto e sua esposa ferida e levada para o hospital. Ben Ari era executivo sênior na sede israelense da Coca-Cola. Além de ter ganhado prêmio presidencial por seu serviço na reserva militar, ele também foi voluntário ativo na organização ZAKA de resposta imediata a emergências de vida.
Mila Mishayev, 32 anos, iria se casar em um futuro próximo. Ela esperava seu noivo no café quando o ataque ocorreu. Mila conseguiu chamá-lo imediatamente após ser baleada, mas morreu mais tarde devido à perda de sangue.
OS ATACANTES PALESTINOS
Khaled Mahamra e Mohammed Mahamra, ambos de 21 anos, eram primos da cidade de Yatta ao sul de Hebron. O primeiro estudava na Universidade Mutah na Jordânia e o segundo trabalhava com obras na cidade israelense de Be’er Sheva.
Durante a infância, os primos Mahamra presenciaram o Exército de Israel prender dois membros de sua família, os tios Taleb Mahamra e Khaled Mahamra (mesmo nome do sobrinho). Em julho de 2002, Taleb participou de um ataque terrorista a tiros que matou quatro israelenses em uma estrada. Ele era parte integrante da Tanzim, milícia terrorista do movimento palestino Fatah, e foi sentenciado à prisão perpétua.
O tio Khaled, membro do Hamas, também havia sido preso em regime perpétuo por matar um colaborador de Israel. Em 2011, Khaled foi solto na negociação pela libertação do soldado Gilad Shalit e em 2014, foi preso novamente após o sequestro de três jovens judeus.
Segundo parentes, os primos Khaled e Mohammed não eram membros oficiais do Hamas, mas foram influenciados por sua ideologia devido à atmosfera e por terem ligação com pessoas associadas ao grupo.
Estamos muito surpresos, e a única explicação para o que aconteceu é que os dois foram influenciados pelos recentes acontecimentos – disse o chefe do conselho.
CADA DOR COM SUA FACE
Quando O Globo coloca a perda dos quatro civis israelenses e as consequências do ataque para a família dos palestinos como duas faces de uma mesma dor, o jornal simplesmente cria uma equivalência moral absolutamente distorcida entra as vítimas e os seus assassinos. Seria como colocar lado a lado a descrição das vítimas da boate Pulse em Orlando e o lamento de seus familiares, com a história do atirador e o que poderia tê-lo influenciado a realizar o ataque. Isto é algo inadmissível.
As quatro vítimas israelenses eram civis seguindo com suas vidas, não havia qualquer desculpa para serem mortos, enquanto os primos Mahamra são assassinos. Eles vêm de uma família com integrantes profundamente envolvidos em células e ataques terroristas contra civis israelenses há anos. A dor da família por terem soldados do Exército de Israel em sua casa para investigação é uma consequência deste cenário. O fato de Khaled e Mohammed terem crescido em um ambiente que os influenciou a praticarem o terrorismo pela primeira vez em Tel Aviv, não os absolve da culpa pelo que realizaram e pelo que se tornaram naquele dia, mais dois terroristas dentro da família.