Semana passada, eu participei da conferência do Instituto Internacional para o Contra-Terrorismo (ICT) em conexão com o Centro Interdisciplinar de Israel em Herzliya (“IDC Herzliya”).
Palestrantes e participantes incluíram militares, diplomatas e especialistas de todas as regiões do mundo. Todos ecoaram o mesmo tema: não subestime o Estado Islâmico (ISIS), nem seus prováveis substitutos.
(Além do meu trabalho no HonestReporting, eu também sou membro adjunto do corpo docente e palestrante no IDC. O editor do HonestReporting França, Walter Ben Artzi, é estudante no IDC, assim como a estagiária do HR, Veronika Becvarova, que contribuiu para este artigo.)
At @ICT_org counter terror conf with @HonestReporting CEO Joe Hyams @HonestReportFR Walter Ben Artzi and @danielspeaksup pic.twitter.com/tbiWtaCuas
— HonestReporting (@HonestReporting) September 12, 2017
(Walter Ben Artzi, Daniel Pomerantz e Joe Hyams, CEO do HR, na conferência do ICT.)
Estado Islâmico não é “Equipe JV”
O ex-presidente Barak Obama uma vez referiu-se a grupos terroristas na Síria e no Iraque (incluindo o Estado Islâmico) como a “Equipe JV” (time universitário júnior), uma metáfora esportiva indicando que ele não sentia que estes grupos representam uma ameaça séria. Presidentes americanos incluindo Obama e Trump, bem como vários especialistas, referiram-se ao Estado Islâmico como estando a caminho da derrota, apontando em particular para a perda de território.
A maioria dos especialistas na conferência do ICT discordou.
O Prof. Rohan Gunaratna explicou:
O controle do ISIS no Iraque e na Síria está diminuindo, mas sua influência está crescendo em todos os outros lugares… da Nigéria à Somália, e do Iêmen às Filipinas. Portanto, não devemos nos regozijar com a contração do ISIS, mas sim nos preocuparmos com sua influência em várias outras organizações.
Aaron Zelin, do Instituto Washington para Política do Oriente Próximo, acrescentou:
As queixas que levaram ao ressurgimento do Estado Islâmico ainda existem no Iraque e na Síria. Como resultado, isso poderia constituir uma base para o recrutamento.
Alguns especialistas observaram que o Estado Islâmico quase foi destruído durante o aumento da presença dos EUA no Iraque, mas se recuperou fortemente.
Brian Fishman, diretor de Política de Combate ao Terrorismo no Facebook, apontou:
A última vez que o ISIS operou secretamente (2014), eles se concentraram no uso da internet e tiveram muito sucesso. Por esta razão, não está claro para mim que eles serão derrotados na Síria e no Iraque apesar da perda na capacidade de governar e manter o território.
No entanto, os especialistas da conferência apontaram para outro problema ainda mais sinistro: as “Forças de Coalizão” que lutam contra o Estado islâmico com o apoio ocidental incluem grupos brutais de milícias xiitas: às vezes iraquianos e às vezes vinculados ao governo do Irã. O resultado é que algumas regiões da Síria estão apenas trocando a violenta opressão sunita do Estado islâmico por uma opressão xiita igualmente violenta.
Ambas as situações servem como incubadoras do terror mundial, criando assim uma séria ameaça para todo o mundo ocidental.
Arrogância Européia
Finalmente chegamos à Europa.
A mesma Europa que constantemente “aconselha” Israel sobre como alcançar a paz e a segurança, ao mesmo tempo em que condena Israel por não adotar políticas semelhantes às estratégias desastrosas da Europa.
O vice-chefe da missão do Reino Unido para Israel, Tony Kay, exemplificou o discurso padrão da Europa:
Estamos fazendo muito… para proteger as pessoas de se tornarem terroristas, ou apoiarem o terrorismo… (usando) uma combinação de poder de convencimento com poder coercitivo. Estamos… engajando comunidades (e produzindo) muitos sucessos que o Reino Unido tem tido na luta contra o terrorismo recentemente.
Há uma obscura ironia na declaração de Kay, que veio apenas três dias antes de um terrível ataque terrorista atingir a estação Parsons Green do metrô de Londres, ferindo 29 pessoas na última sexta-feira. Embora Kay sem dúvida tenha tido boas intenções, sua declaração serviu de mais um exemplo de uma autoconfiança européia mortal, numa época em que a Europa precisa desesperadamente de mais humildade.
Na verdade, o recente histórico da Europa tem sido sangrento:
Apenas na semana passada, a Europa passou por três ataques separados em Londres e Paris, além de recentes ataques em Nice, Bruxelas, Estocolmo, Berlim, Manchester, Barcelona e outros. Em apenas dois anos (2015-2016), o terror islâmico matou 288 europeus e feriu 739, em contraste com Israel, onde 50 foram mortos durante o mesmo período.
Os israelenses sofreram menos de um quinto do número de mortes pelo terrorismo do que os europeus, fato que pode surpreender o público de notícias que conhece Israel apenas através de manchetes dramáticas e enganosas.
Pode-se até dizer que a Europa (e não o Estado Islâmico) é a verdadeira “equipe JV”.
Considere que mais de 20% da população de Israel é árabe, assim como todos os países vizinhos, e a conclusão é óbvia: para todos os seus desafios, Israel entende como viver com os vizinhos muçulmanos e como se proteger contra o terror islâmico. A Europa, por outro lado, não.
No entanto, se os palestrantes na conferência da ICT são algum modelo, os líderes europeus precisam enfrentar e aceitar essa dura verdade.
E a população da Europa está pagando por esse erro com suas vidas.
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