Com a questão dos assentamentos israelenses de volta às manchetes, surgiram também erros factuais. Independente das opiniões sobre o status dos assentamentos, a mídia ainda tem a responsabilidade de informar com precisão sobre o que acontece na região.
Uma série de veículos reportou nos últimos dias que Israel estaria prestes a construir novos assentamentos. Veja por exemplo, a manchete do Jornal Extra:
Acontece que Israel não está planejando construir novos assentamentos, mas sim construir novas casas dentro de assentamentos existentes há décadas. Este erro também apareceu nas machetes do Valor Econômico, do Jornal do Comércio de Porto Alegre, no sempre parcial Brasil 247 – que diz que Israel está construindo na “Palestina” como se fosse o território de um país independente e não um território disputado que nunca pertenceu a nenhum país.
Em todos os casos, a própria notícia não fala em novos assentamentos, mas sim novas casas:
A prefeitura de Jerusalém sinalizou que pretende aprovar na quarta-feira a construção de mais 600 casas na parte oriental predominantemente palestina, que deverão ser as primeiras de um conjunto de 5.600…
Acontece que nenhum dos veículos explica onde exatamente serão construídas essas casas. Segundo o Jerusalem Post:
As aprovações incluirão 262 unidades em Ramat Shlomo, 216 em Ramot e 142 em Pisgat Ze’ev. Além disso, o Comitê de Zoneamento do Distrito deve discutir a aprovação de 5.600 unidades residenciais em Gilo, Ramot e Givat Hamatos…
Todas estas cidades, são assentamentos antigos construídos nos anos 70, 80 e 90 (a mais recente, Ramat Shlomo, estabelecida em 1995). Mas as manchetes fazem parecer ao leitor que se trata de novos assentamentos, antes inexistentes.
O erro se repete nos programas de notícias da Rede Globo.
“Israel anunciou que vai construir novos assentamentos judaicos em Jerusalém Oriental” – diz a âncora Zileide Silva.
Observem ainda o subtítulo que o Jornal Nacional veiculou, “um assentamento para 5,6 mil famílias”. Ou seja, não são 5.600 casas distribuídas dentro de 3 assentamentos que já existem há décadas, mas um assentamento completamente novo entregue nas mãos de 5,6 mil famílias israelenses. Soa terrível, não é?
“O governo de Israel anunciou que vai construir novos assentamentos em territórios palestinos”, diz William Bonner. O repórter Jorge Pontual reitera, “Será a primeira fase de um assentamento para 5.600 famílias“. Esta informação é FALSA.
E o Jornal Nacional não parou por aí. Na edição que seguiu a anterior, o programa ainda mostrou a imagem de um mapa falso para o público. Em uma matéria sobre os assentamentos, enquanto o repórter Felipe Santana fala que há décadas os governos americanos concordam que a única solução para a região é a aceitação de dois Estados, o seguinte mapa é exibido:
Este mapa poderia ser simplesmente a ilustração de um objetivo se não fosse o ano 1967 estampado no meio do mar. Quem não conhece bem a história, olha para esse mapa e pensa que em 1967, Faixa de Gaza e Cisjordânia compunham a Palestina, o que nunca aconteceu. De 1949 até 1967, Faixa de Gaza ficara nas mãos do Egito, e Cisjordânia controlada pela Jordânia, e nenhum dos dois países tiveram interesse em criar um Estado Palestino nesse meio tempo.
O Jornal Nacional deveria tomar muito cuidado com as imagens montadas que veicula. Neste caso, eles falharam em seu profissionalismo e veicularam o que quiseram da forma que quiseram sem se preocupar com a veracidade das informações que estavam passando para o público.
Mas principalmente, todas as manchetes citadas aqui precisam ser mudadas. As manchetes merecem muita atenção e cuidado. Todo mundo sabe que as pessoas não leem a maioria dos artigos nos jornais diários. Elas apenas passam pelas manchetes antes de parar em algo que realmente chame sua atenção – seja nos jornais ou nas redes sociais.
O HonestReporting entrou em contato com estes veículos para exigir uma correção e uma retratação no caso dos programas de TV.