O programa Fantástico da TV Globo que foi ao ar no último domingo, dia 19, mostrou uma matéria sobre a ida do padre Fábio de Melo à Gaza “para conhecer de perto a realidade dos cristãos” que lá vivem sob constante ameaça física e psicológica dos “radicais islâmicos”.
Conduzida pelo repórter Rodrigo Alvarez, correspondente da TV Globo no Oriente Médio, a matéria analisa a região: “20 anos de guerras no Iraque”, “cinco anos de catástrofe na Síria”, “três guerras em Gaza” e o crescimento do Estado Islâmico dificultam a prática do cristianismo.
O islamismo militante e anticristão do Estado Islâmico e do Hamas de fato levam a uma perseguição cada vez maior dos cristãos que precisam se deslocar para sobreviver. Mas que fique claro: No Iraque e na Síria, o Estado Islâmico declarou guerra aos cristãos. Em Gaza, apesar da perseguição aos cristãos pela ideologia islâmica, os alvos declarados do Hamas são unicamente os judeus e Israel, e com estes foram travadas as três guerras citadas pelo repórter. Nada teve a ver com os cristãos.
O programa continua: diminuição do número de cristãos em Gaza ao longo do tempo, ameaças pichadas em paredes de igreja, carros da igreja explodidos, bombas e pedras jogadas no pátio de igrejas, tentativas forçadas de conversão ao islã, etc. De Gaza, o programa passa para a Jordânia mostrando uma família fugida do Iraque onde “em pouco mais de uma década, uma população de mais de dois milhões de cristãos diminuiu para menos de 200 mil”.
Mas não contente em abordar somente a questão do cristianismo, o programa precisou colocar uma pitada do conflito Israel-palestina no meio:
A vida em Gaza já é difícil pra qualquer palestino. Cercados por muros israelenses, usando carroças porque falta combustível para os carros e com quase metade da população sem emprego.
“Mas nada mais perigoso aqui do que ser cristão”, completa o repórter para não sair do assunto, mais do que já havia saído.
Por que será que mesmo quando a culpa não é de Israel, a culpa é de Israel?
Um muro que leva o trânsito entre Gaza e Israel a ser feito através de um posto de controle – evitando o livre deslocamento de terroristas, e contrabando de armas e materiais para a construção dos mesmos – não faz a vida dos palestinos mais difícil do que seu próprio governo. O Hamas investe a maioria de seus recursos em terrorismo ao invés de direcioná-los a aumentar a qualidade de vida da sua população. O pouco combustível que há em Gaza vem de Israel, além de alimentos, água, remédios, cosméticos, materiais de construção (usados nos túneis do Hamas), etc. Se os palestinos dependessem apenas de seu governo, estes produtos estariam sempre em falta.
O programa fala na existência de muros israelenses, mas não cita os muros entre Gaza e Egito que fecham 100% da passagem para produtos entre os dois locais e muito raramente abrem para a circulação de pessoas. O governo egípcio teme a infiltração do Hamas em suas terras. A fronteira com Israel está aberta e em atividade diariamente.
Também parece não ser de conhecimento público que para transitar entre Israel e Gaza, os palestinos bem como a ajuda humanitária passam por três postos de controle Hamas, Fatah e Israel. Por que um posto de controle do Fatah no meio? Porque Hamas e Israel simplesmente não dialogam, por alegações declaradas do Hamas de ter por objetivo aniquilar Israel e os judeus. Eles precisam de um interlocutor. Agora, se isto é necessário, o que aconteceria se não houvesse uma barreira entre Gaza e Israel? Se não houvesse todas estas etapas de controle?
Há um lugar ao sol para os cristãos na região?
Se a matéria foca na triste situação dos cristãos em Gaza e outros países devido ao fundamentalismo islâmico, por que não elogiar ou pelo menos citar Israel que é o único país democrático no Oriente Médio, onde cristãos (e demais religiões) são livres para praticarem as suas crenças sem nenhum tipo de perseguição ou ameaça de vida? Já judeus, se tentassem viver em Gaza, passariam por uma situação pior que as dos cristãos, não sobreviveriam.
Nas entrelinhas… do Facebook
Em sua página oficial no Facebook, o jornalista Rodrigo Alvarez não poupou comentários extras e misturou a questão dos cristãos com a situação dos muçulmanos em Gaza.
Muçulmanos e cristãos sofrem profundamente os efeitos da ocupação, cercados por muros, e sem liberdade de sair ou entrar porque as portas de seus dois vizinhos – Israel e Egito – são fechadas a eles. Moradores de Gaza não têm aeroporto nem porto nem outra saída.
Para o jornalista, os cristãos também sofrem com a ocupação… israelense? Israel retirou 100% da sua população da Faixa de Gaza em 2005, antes de entregá-la à Autoridade Palestina e, mesmo assim, ainda a ocupa? Moradores de Gaza teriam livre circulação para fora da região se seu governo não pregasse aberta e oficialmente em seu estatuto a destruição completa de Israel e dos judeus, levando à necessidade de um controle de fronteiras.
Tanto cristãos quanto palestinos em Gaza sofrem por conta da corrupção, da ideologia e das prioridades do Hamas. Sofrem porque têm seus direitos civis, políticos, de liberdade de expressão, de liberdade sexual e religiosa, suprimidos. Mas para o Fantástico e seu repórter, um muro os coloca em crise.
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