A IstoÉ online, em sua matéria “Controverso plano de partilha da Palestina completa 70 anos”, mostra a trajetória do Plano de Partilha e suas consequências, mas perde credibilidade por dois aspectos:
- A velha confusão entre os palestinos da época e o que se conhece hoje por palestinos.
- Falta de informação e contexto que passa uma imagem parcial da história.
Assim como neste primeiro trecho, a matéria diversas vezes usa o termo “palestinos” para se referir aos árabes da Palestina na época da partilha. Este é um erro que foi perpetuado pela mídia ao longo do tempo, e que distorce a história, uma vez que o termo usado com este propósito foi cunhado apenas na década de 60 junto da criação da OLP. Durante o Mandato Britânico (até depois da independência de Israel), os judeus eram chamados de palestinos, e não os árabes. Por volta de 1948, os árabes na Palestina eram provenientes da Jordânia, Síria e do Líbano.
Por esse mesmo motivo é errado falar em “Estado palestino” no contexto da partilha. O correto é “Estado árabe”, que foi o real termo usado na proposta da ONU. “Dossiê palestino” deveria aparecer como “Dossiê da Palestina”.
O mesmo erro repete-se na frase abaixo que deveria ler “caso da Palestina”.
Em fevereiro de 1947, Londres transfere o caso palestino às Nações Unidas.
A matéria explica então a votação da proposta na ONU. Os leitores atentos, que prestam atenção ao fato de que TODOS os Estados árabes votaram contra a proposta que criaria um Estado para os árabes da Palestina, podem entender o início da questão da falta de um Estado palestino até hoje.
Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral da ONU em Nova York aprova em votação a partilha da Palestina. A resolução 181 é adotada por 33 votos a favor – inclusive dos Estados Unidos, da União Soviética e da França -, 13 contra – entre eles, os dos Estados árabes – e dez abstenções – como a Grã-Bretanha. A votação não dura mais que três minutos.
Árabes da Palestina…
Assim, os judeus ficam com 54% do território, apesar de não representarem mais de 30% da população.
Nesta frase é onde mora o perigo da omissão seletiva de informação. Sim, havia menos judeus do que árabes no geral e seu Estado ganhara um território maior. Acontece que havia mais árabes vivendo nas partes de maioria judaica do que judeus vivendo nas partes de maioria árabe.
O Plano de Partilha ganhou a forma que ganhou porque as cidades e aldeias judaicas estavam espalhadas por toda a Palestina e seu alto padrão de vida atraiu grandes porções de população árabe. Reconhecendo que o Estado judaico precisaria abrigar a maioria da população da Palestina (a maioria dos judeus e parte dos árabes), a partilha alocou 54% do território para isso. O restante formaria o Estado árabe.
Os limites foram baseados exclusivamente em dados demográficos: O Estado judeu deveria ser composto por 538.000 judeus e 397.000 árabes, e o Estado árabe por 804.000 árabes e 10.000 judeus. Além disso, aproximadamente 60% do Estado judeu seria composto pelo deserto do Negev, enquanto os árabes ganhariam a maior parte das terras agrícolas.
Apontar a porcentagem de território alocada a cada Estado comparado a cada população sem fornecer o contexto pelo qual esta divisão ocorreu apenas passa a ideia de que a partilha era um plano injusto para os árabes quando na verdade a única razão pela qual eles não aceitaram fora a recusa de aceitar a existência de um Estado judeu.
A matéria quer dizer o que os países árabes da ONU “reclamam” hoje em dia certo? Pois na época, eles clamavam por toda a Palestina para si.
Em 14 de maio de 1948, David Ben Gurion proclama a criação do Estado de Israel, logo após o fim do mandato britânico na Palestina. O primeiro conflito árabe-israelense começa no dia seguinte.
Em seguida, Israel ocupa 78% da Palestina. Mais de 760 mil palestinos adotam o êxodo.
E Como começou o conflito? Como Israel ocupou a maior parte do território após a guerra?
Israel declarou sua independência adotando as fronteiras estabelecidas pela ONU, mas no dia seguinte, o novo Estado judeu foi atacado por 6 países árabes diferentes.
Jamal Husseini, o porta-voz da Liga Árabe, já havia dito à ONU que os árabes molhariam “o solo de nosso amado país com a última gota de nosso sangue.” Após os países árabes atacarem Israel, Abd al-Rahman Azzam Pasha, secretário-geral da Liga Árabe afirmou: “Será uma guerra de aniquilação. Será um importante massacre na história que será lembrado como os Massacres dos Mongóis ou as Cruzadas”.
No final, apesar da desvantagem em números e em armas, Israel ganha a guerra que os árabes começaram e conquista territórios em uma guerra defensiva.
Uma matéria explicando um marco tão importante na história como o Plano de Partilha não poderia deixar contextos tão cruciais de fora. Isto apenas torna a matéria extremamente parcial e pinta Israel como o personagem que tomou terras injustamente.
O HonestReporting entrou em contato com a IstoÉ para pedir modificações.