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O Globo Sobre Mudança da Embaixada Americana: Informações Precárias da História de Jerusalém

A notícia de que Trump está para anunciar a mudança da embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém causou uma onda de análises históricas sobre a “Cidade Santa” e sua complexidade, em diferentes veículos de…

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A notícia de que Trump está para anunciar a mudança da embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém causou uma onda de análises históricas sobre a “Cidade Santa” e sua complexidade, em diferentes veículos de notícia. No caso do O Globo, diferentes matérias deixaram a desejar: ou passaram informações falsas/enganosas, ou omitiram contextos cruciais para o entendimento do conflito.

EUA: Embaixada será em Jerusalém, mas não no primeiro mandato de Trump

(Os erros a seguir repetiram-se também nesta matéria.)

A Cisjordânia não é e nunca foi um território palestino em sua totalidade. Sua área fora designada pela ONU em 1947 para compor um Estado árabe, mas o plano nunca foi concretizado por conta da recusa árabe e início da Guerra de 1948. Em 1949, a Cisjordânia ficou sob controle da Jordânia até o fim da Guerra de 1967 quando Israel conquistou a área em uma guerra defensiva, e nos anos seguintes foi se retirando aos poucos em diferentes acordos. Os acordos interinos entre Israel e a OLP de 2000 estipularam o tipo de controle em três áreas diferentes da Cisjordânia: Zona A, principais áreas árabes, controlada civil e militarmente pela Autoridade Palestina (AP); Zona B, cidades e vilas palestinas onde a AP exerce o controle civil e a IDF, o controle militar; e Zona C, considerada em disputa, onde estão os assentamentos israelenses.

O problema aqui é a falta de contexto que transforma Israel no personagem que tomou territórios à força e sem motivos. Os territórios descritos acima foram tomados por Israel em uma guerra defensiva começada pelos respectivos países árabes. As áreas tomadas eram fundamentais para evitar que os países árabes continuassem atacando Israel.

 

Por que transferir a embaixada dos EUA a Jerusalém é tão controverso?

Nesta matéria, o autor Breno Salvador tenta explicar a importância de Jerusalém para israelenses e palestinos, mas a sessão “Nacionalismos nos Locais Sagrados” está cheia de explicações confusas, tendenciosas e errôneas que não poderiam chegar desta forma ao conhecimento dos leitores.

O que o autor quis dizer com “controle dos territórios palestinos”? E que territórios – se o conceito de palestinos como se conhece hoje nem existia naquela época?

Não houve controle de nenhum território “palestino” que tenha levado a uma guerra entre milícias judaicas e forças árabes em 1948. Pelo contrário. Israel declarou sua independência nas fronteiras estipuladas pelo Plano de Partilha da ONU para o Estado judeu. Um dia depois, seis países árabes atacaram Israel e apenas no processo de sua defesa, Israel acabou conquistando territórios antes designados para o Estado árabe segundo o plano.

De novo, Israel declarou sua independência nas fronteiras desenhadas pelo Plano de Partilha, que recebeu maioria nos votos de aprovação da Assembléia Geral da ONU em 1947. Não declarou nada simplesmente “à força”.

E vitorioso sim, em um conflito que o país não começou. Mas Israel não simplesmente “tomou a região Ocidental de Jerusalém”. Em 1949, os Acordos de Armistício declararam que Israel e Jordânia dividiriam geograficamente Jerusalém, por tempo provisório (sem constituir fronteiras políticas ou territoriais), e trabalhariam juntos para o reinício do funcionamento de instituições, acesso ao cemitério judaico no Monte das Oliveiras (onde os judeus enterraram seus falecidos por mais de 2500 anos), e lugares sagrados. Mas a Jordânia violou o acordo, e bloqueou e isolou metade de Jerusalém (a parte mais a leste) com arame farpado e muros de concreto. Os judeus que ali viviam foram mortos ou expulsos e o acesso aos locais sagrados foi negado a todos os israelenses (inclusive árabes), contrariando os termos do armistício.

A única região sagrada “cuja soberania pertence à Jordânia” em Jerusalém é a região da Mesquita de Al Aqsa e o Domo da Rocha, e não toda a Cidade Velha e isso deveria estar especificado no texto.

E não seria “resistência” um conceito subjetivo? Talvez o mais adequado fosse falar em “não aceitação do controle israelense”, pois o lançamento de pedras e coquetéis molotov em soldados e civis israelenses não é exatamente visto como resistência por muitos além dos palestinos.

A subsequente resposta de Israel a recentes ataques de radicais palestinos não foi a negação do acesso à mesquita, mas sim a colocação de detectores de metal na entrada da mesquita como medida de segurança. O acesso a palestinos com menos de 50 anos foi vetado dias depois em uma sexta-feira específica de reza na mesquita devido a violentos protestos palestinos.

 

O HonestReporting entrou em contato com o O Globo para pedir mudanças nestes artigos.

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