O portal de notícias NE10, de Pernambuco, resolveu fazer uma sessão de “5 perguntas e respostas para entender quem são os palestinos”, em comemoração ao dia internacional de solidariedade com o povo palestino, estipulado pela ONU no dia 29 de novembro – dia em que a organização votou pela partilha da Palestina em 1947.
Só que na pretensão de “explicar objetivamente” sobre “quem são os palestinos e como vivem”, a redação criou respostas tão falhas e tão falsas, que de objetivas elas têm apenas a sua intenção gritante de vitimizar os palestinos. Vejamos:
1. A Palestina é um país?
Alguns países, como o Brasil, reconhecem o Estado Palestino. Não, a Palestina não é um país. A Palestina é uma região que até o fim do Mandato Britânico, em 1947, compreendia o que se conhece hoje por Faixa de Gaza, Israel, Cisjordânia e Jordânia (Até 1946). Os árabes que viviam na parte da Palestina a oeste do rio Jordão, passaram a autointitular-se “palestinos” na década de 60, com a criação da OLP, e então, clamar pela criação de um Estado “palestino”.
A região que compreende a Palestina é hoje dividida em duas regiões: a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. A região que compreende a Palestina é dita acima. Faixa de Gaza e Cisjordânia compõem os territórios palestinos que, no futuro, fariam parte do Estado palestino.
A terra, a qual faz parte de um conflito recente na história do mundo, ganhou este nome durante a colonização inglesa no início do século XX. FALSO. A região ganhou o nome de “Palestina” no século II, quando os romanos batizaram a Judéia de “Palaestina”. O Império otomano chamava a Palestina de “sul da Síria”, pois, para eles, “Palestina” remetia ao cristianismo, e o Mandato Britânico adotou o nome outra vez.
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2. Quem governa a Palestina?
Hoje em dia, o termo “Palestina” foi tomado pelos árabes palestinos como designando a sua parte da terra, e é aceito internacionalmente através da ONU. Isto causa uma confusão no entendimento da história e faz o mundo esquecer que até 1948, os judeus da Palestina também eram “palestinos”. Mas segundo esta aceitação internacional, hoje, Fatah e Hamas governam a Palestina.
3. Mas, por que Israel e Palestina brigam há tanto tempo?
Eles se referem aos judeus e árabes até 1948, israelenses e árabes entre 1948 e 1964, ou israelenses e palestinos de 1964 até hoje? Difícil saber…
Essa é fácil de responder, mas difícil de solucionar. O motivo essencial da briga entre palestinos e israelenses é a terra.
Os dois povos viviam na região há muito tempo, porém os hebreus, a quem os judeus descendem, foram expulsos do local causando uma grande diáspora judaica pelo mundo. Então deveria ser uma diáspora hebraica e não judaica, se os hebreus é que foram expulsos e não os judeus? Ou pelo menos é isso que o texto quer dar a entender, mas não consegue diante de sua nítida confusão de expressões. Os judeus são os hebreus e vice-versa, ponto. Hebreus (de Abraão, o Ivri), israelitas (filhos de Israel – Jacó) e judeus (da tribo de Judá) são o mesmo povo que ganharam diferentes nomenclaturas ao longo da história. Os hebreus/judeus sempre habitaram a região até sua 1a expulsão para a Babilônia, de onde retornaram à Jerusalém 71 anos depois. E foram expulsos novamente pelos romanos (pequenos grupos nunca saíram).
A grande diáspora aconteceu quando as terras eram dominadas pelo império romano e após o Holocausto, na Segunda Guerra Mundial, começou a se discutir a criação do estado de Israel para que os judeus pudessem retornar à terra. Com relação aos palestinos, uma vez que estes são árabes da Palestina, muitos povos habitaram a região ao longo de diferentes califados, e sempre tiveram uma boa relação com os judeus até o fim do século XIX. Por volta de 1948, os árabes na Palestina eram provenientes da Jordânia, Síria e do Líbano.
O grande problema é que os palestinos povoaram o local após a saída dos hebreus e não pretendiam abrir mão das terras para a criação de um estado de maioria judaica. Hebreus também eram palestinos… Explique-se.
4. O que a ONU acha disso tudo?
A ONU? Que passou 20 resoluções contra Israel em 2016, e apenas 1 para a Síria ou 0 para a Arábia Saudita? Ok, vamos lá.
Israel não aceitou o tratado? Primeiro que o moderno Estado de Israel ainda não tinha sido fundado para aceitar ou não alguma coisa. Segundo, após a Assembleia Geral da ONU aprovar o Plano de Partilha da Palestina, a Agência Judaica aceitou o plano, a Liga Árabe foi quem recusou. Meses depois, foi declarada a Independência do Estado de Israel, os Estados árabes reagiram imediatamente dando início à primeira guerra árabe-israelense.
5. E como é a vida dos palestinos hoje?
Não muito boa. Após várias guerras travadas desde a independência de Israel (todas iniciadas por países árabes ou lideranças palestinas), os palestinos perderam grande parte de seu território e vivem sitiados em cidades controladas pelo exército israelense. Israel não controla a Faixa de Gaza ou a Cisjordânia, o Hamas e a Autoridade Palestina o fazem. Israel controla militarmente suas fronteiras e áreas específicas na Cisjordânia de acordo com Oslo II.
A questão nos últimos anos não tem sido dialogada entre as partes, na maioria das vezes por causa do governo de Israel
Veja a tabela abaixo e tire suas próprias conclusões sobre por que o diálogo está estagnado:
que construiu um muro isolando o povo na Cisjordânia (Israel construiu o muro em suas fronteiras, acabando com os ataques terroristas suicidas que ocorriam regularmente até então) e construindo colônias irregulares em territórios que são originalmente dos palestinos. FALSO. A Cisjordânia estava nas mãos da Jordânia até que esta entrou na Guerra de 1967 contra Israel e perdeu o controle das terras por uma guerra que ela mesma começou.
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Uma coisa é certa. Um portal de notícias que escreve uma matéria com tamanhos erros e falsidades históricas, não pode ser levado à sério. Ultrapassa o nível da ignorância e passa para o mau-caratismo intencional, de levar desinformação e realidades distorcidas para seus leitores. Boa parte do público brasileiro já se tocou que alguns veículos transformaram-se em perda de tempo, mas para nós no HonestReporting, aqueles que continuam enxergando a verdade em cada meio que carregue título oficial de noticiário, merecem algo melhor, e, principalmente, Israel merece uma cobertura mais justa, hoje mais do que nunca.