O debate sobre a analogia entre antissemitismo e antissionismo possui uma realidade prática nos Estados Unidos que um pouco de atenção a ela nos faria entender algo crucial: antissionistas podem dizer que não odeiam judeus, mas o seu racismo reside no total descaso com os judeus.
Um aluno da Universidade Stanford, na Califórnia, defendeu que dizer que os judeus controlam a mídia, os bancos, os governos e outras instituições sociais, não é antissemitismo, mas sim uma “válida discussão”. Já na Faculdade de Oberlin, em Ohio, um grupo de alunos judeus anti-sionistas publicou uma carta num jornal estudantil reclamando sobre o monopólio de alunos judeus sionistas da opinião sobre antissemitismo e antissionismo..
Estamos profundamente preocupados com a persistente confusão entre antissionismo e antissemitismo, que não apenas é anti-histórica e infundada, mas também desempenha um papel ideológico central na tentativa de minar a crítica legítima ao Estado de Israel. Essa confusão nos deixa, como judeus anti-sionistas, sem uma comunidade a quem recorrer quando experimentamos o antissemitismo.
E sobre o que consideram antissemitismo, colocaram:
Estamos de acordo com a definição de antissemitismo apresentada por Aurora Levins Morales, uma judia ativista pró-palestina. Ela escreve que o antissemitismo – escrevendo sobre os judeus europeus vivendo em meio ao cristianismo – funciona através da criação de ‘um grupo tampão vulnerável que pode ser subornado com alguns privilégios para gerir a exploração dos outros, e então, quando há pressão social, ele pode ser responsabilizado e tachado de bode expiatório.
Ou seja, o antissemitismo não seria o ódio histórico a judeu, mas uma conspiração da classe alta cristã européia que dava poder aos judeus para depois poder culpá-los quando algo dava errado com a classe subordinada.
Estes alunos simplesmente deram aval para os estereótipos do regime nazista: as charges de judeus controlando o mundo, e a ideia da culpa judaica pelos males da sociedade. E isto atinge alunos e professores das melhores faculdades atualmente – não somente nos Estados Unidos, 5 anos em uma federal brasileira foram mais do que o suficiente.
O QUE MOSTRAM ESTES CASOS
Primeiro, o debate antissionismo/antissemitismo não mudará nada na mente de quem chame seu preconceito de “pensamento válido de discussão”. Segundo, se estes alunos judeus anti-sionistas enxergassem um pouco além de seus interesses veriam que a intolerância não faz exceções. Vejam a nota do editor no topo de sua carta:
Esta carta foi publicada na edição impressa na sexta-feira, 11 de março, que foi assinada pelos Estudantes Judeus da SFP. A SFP se abstém de ações ou cartas em nome de estudantes judeus, uma vez que é uma organização de solidariedade à Palestina.
Esses alunos são membros do SFP (Students for Palestine) – Estudantes pela Palestina. Mas a SFP fez questão de esclarecer que não se responsabiliza por nada que esses alunos digam ou façam – mesmo em nome do movimento -, pois eles são judeus, e a organização é solidária aos palestinos. Eis aqui uma organização pró-palestina deixando claro o que judeus anti-sionistas nunca confessarão: esta não é uma luta entre quem defende e quem recrimina a existência de Israel, mas entre judeus e aqueles que acham a sua presença/preservação/identidade nociva de alguma forma, em qualquer lugar do mundo.
Aqueles que acreditam que os judeus controlam o mundo (ou, o sionismo imperialista) não fazem distinção entre os judeus que apoiam Israel e os que não apoiam. Nazistas não faziam distinção entre judeus alemãos e alemãos judeus, Osama Bin Laden não fez distinção entre os cruzados-sionistas e os cristãos-judeus, Hezbollah não fez distinção entre Israel e a comunidade judaica de Buenos Aires, os representantes do Estado Islâmico presos no Brasil tampouco distinguiriam o judeu anti-sionista do sionista.
É irônico que nossos inimigos lembrem ao mundo constantemente que judeus e o Estado de Israel são ‘questões’ indissociáveis, mas aqueles que dizem estar ao nosso lado, teimam em defender que não se pode misturar as coisas.
O MOTIVO QUE LEVOU AO SIONISMO VAI DESAPARECER COM O FIM DO SIONISMO?
Sionismo significa a autodeterminação do povo judeu na Terra de Israel, ponto. Uma vez que os judeus tenham criado o Estado judeu em Israel, há as diferentes práticas de diferentes governos, e críticas direcionadas a essas práticas não são necessariamente uma manifestação de antissemitismo. Mas os anti-sionistas querem que o fim do Estado judeu seja considerado uma crítica legítima ao Estado (?) E querem que os palestinos sejam reconhecidos como povo e tenham um Estado próprio, mas os judeus não podem…
O sionismo foi concebido como uma resposta à questão do status dos judeus e à milênios de perseguição. Para os anti-sionistas, pouco importa encontrar uma resposta/solução para a questão judaica que leve em conta as aspirações ou a segurança básica dos judeus. Eles apenas reconhecem que se Israel desaparecesse, os judeus teriam de enfrentar um problema como judeus, mas isso não é da conta deles.
Os cinco alunos judeus querem ter uma comunidade “a quem recorrer” caso experimentem o antissemitismo, mas não se importam se esta comunidade será mais uma vez uma minoria anômala, vulnerável à perseguições.
Anti-sionistas podem prometer que os judeus estarão a salvo como minorias em outros países, mas Israel existe porque os judeus aprenderam que não dá para confiar nessas promessas.