Foi grande a cobertura televisiva da visita de Trump a Israel esta semana, abordando a postura do presidente, suas declarações e atitudes. Mas na hora de contextualizar o público sobre questões históricas e políticas envolvendo os personagens do conflito israelo-palestino, a mídia mais uma vez escolheu meticulosamente quais informações passar e quais não.
Em dois telejornais diferentes da Rede Globo, o correspondente Rodrigo Alvarez trouxe comentários extremamente parciais e incompletos que constroem um cenário deficiente no imaginário do espectador.
No Bom Dia Brasil, Rodrigo comentou:
Donald Trump não traz na bagagem nenhuma ideia mirabolante sobre como acabar com a disputa entre israelenses e palestinos, pelo contrário, bota lenha na fogueira ao querer mudar a embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv, uma cidade israelense, pra Jerusalém, a cidade que a ONU determinou que deveria ser compartilhada, mas que há exatos 50 anos é completamente ocupada por Israel.
O que um telespectador que ouve este comentário pode depreender das informações dadas? Provavelmente, que Jerusalém não é compartilhada, pois Israel contrariou a determinação da ONU e ocupou a cidade em sua totalidade. Mas onde estão os acontecimentos de 1947 até 1967?
Em 1947, o Plano de partilha da ONU, que colocava Jerusalém sobre controle internacional, foi aceito pela Agência Judaica e recusada pela Liga Árabe. Quando Israel declarou sua independência em 1948, o fez adotando as fronteiras estabelecidas pela ONU, mas o novo Estado judeu acabou sendo atacado por 6 países árabes diferentes. O fim desta guerra veio com a vitória israelense e o Armistício de 1949 que estabelecia linhas de separação provisórias entre Israel e os países árabes vizinhos, sem constituir fronteiras políticas ou territoriais. Jerusalém teve metade de seu território bloqueado e isolado pelos jordanianos que o cercaram com muros de concreto e arame farpado, negando o acesso de israelenses, cristãos e inclusive árabes, a seus lugares sagrados – contrariando os termos do armistício que asseguravam este acesso. Esta situação durou até 1967 quando Israel, em seu processo de defesa contra os ataques jordanianos, conquistou e libertou a parte de Jerusalém sitiada – que ficara conhecida como oriental por estar do lado direito da linha do armistício.
Portanto, Alvarez passa uma imagem falsa da história, deixando tantas informações importantes de fora. Se Jerusalém não está compartilhada hoje, não é pela ocupação por Israel 20 anos depois do Plano da ONU, mas pela recusa árabe e pelas inúmeras guerras que eles começaram contra Israel.
Mas não para por aí…
No jornal Hora 1, mais um comentário completamente enviesado:
A gente sabe … que os palestinos não vão aceitar nenhuma negociação de paz sem que Israel reconheça um Estado independente e soberano em que eles tenham o direito de ter portos, aeroportos, passaporte, liberdade, coisas normais pra nós que os palestinos não têm.
Por que o jornalista cita apenas as demandas palestinas, fazendo parecer que as negociações de paz não evoluem por falta de ações israelenses? Israel também tem demandas que os palestinos precisam aceitar, começando pelo fato de que o presidente palestino já declarou pública e abertamente que não reconhecerá Israel como um Estado judeu. Por que apenas o povo palestino tem direito a sua autodeterminação e os judeus não?
O processo de paz é uma via de mão dupla, mas nos comentários de Alvarez, ele se transforma mais uma vez em ferramenta de vitimização dos palestinos.
Aqui vemos um telejornalismo pobre, anti-profissional e escancaradamente enviesado.
Até quando?