Desde que a palestina Ahed Tamimi teve seu vídeo batendo em soldados israelenses viralizado, levando a sua posterior detenção, a mídia brasileira tem reportado o incidente da forma como Tamimi sonhara: a jovem de 16 anos que virou “símbolo da resistência palestina”, ou a “heroína” do povo palestino.
Enquanto é verdade que os veículos de notícia apenas replicaram estas nomeações, não sendo eles responsáveis por tal atribuição de valor à Tamimi, é nossa responsabilidade mostrar o outro lado da moeda para capacitar os leitores ao pensamento crítico toda vez que receberem manchetes do tipo.
Se você ainda não conhece a história completa, leia aqui.
Resposta ou agressão gratuita?
O lado palestino afirma que os soldados israelenses estavam estacionados na entrada da casa da família Tamimi depois de colegas seus terem atirado no primo de Ahed, de 14 anos, no rosto com uma bala de borracha, e disparado gás lacrimogêneo na casa.
De acordo com o Exército de Israel (IDF), os soldados estavam na aldeia de Nabi Saleh para impedir que atiradores de pedra palestinos alvejassem motoristas israelenses em uma estrada próxima. Os lançadores de pedra entraram na casa dos Tamimi, razão pela qual os soldados estavam naquele local.
A família Tamimi, incluindo Ahed, tem um grande histórico de confrontos com os soldados da IDF que já se dão há anos, e são sempre amplamente divulgados.
De acordo com a acusação e o vídeo viral, Tamimi atacou, empurrou, chutou, mordeu e gritou com os soldados. Além disso, na semana passada, Ahed defendeu publicamente ataques por esfaqueamento e atentados suicidas contra israelenses, que pode ser visto neste vídeo abaixo (a partir de 0:38 seg):
Mãe de Ahed: Ahed, sua mensagem para o mundo.
Ahed: Eu desejo que todos participem de protestos porque esse é o único meio de conseguirmos resultados, porque nossa força está em nossas pedras. E eu desejo que todos ao redor do mundo unam-se para que possamos libertar a Palestina… porque Trump deve ser responsabilizado pela decisão que tomou, por qualquer reação palestina, sejam esfaqueamentos, operações de martírio (ex: explosões suicidas), apedrejamentos… Todos devem fazer algo, então assim nos uniremos e poderemos passar nossa mensagem e conseguir o resultado que é a libertação da Palestina.
Quanto da violência que os palestinos acusam a IDF, não está sendo feita e encorajada pelos próprios Tamimis?
Israel (toda) é “ocupação”
Apenas para esclarecer o motivo desses protestos e distúrbios: a família Tamimi se opõe não apenas à presença de Israel na Cisjordânia, mas à própria existência de Israel.
Sobre quando nosso próprio editor-chefe, Simon Plosker, visitou a casa dos Tamimi em 2012, ele diz:
…foram feitas referências à ocupação de 1948. Não 1967 – quando Nabi Saleh caiu sob o controle israelense, sendo anteriormente ocupada pela Jordânia -, mas o ano do renascimento de Israel. “Resistência não-violenta” foi uma escolha estratégica, enquanto foi enfatizado que, de acordo com o direito internacional, os palestinos tinham o direito de usar “todos os meios necessários” para resistir à ocupação. Lembrei-me de ouvir sentimentos semelhantes de terroristas palestinos depois de ônibus israelenses e cafés terem sido atacados por terroristas suicidas.
De fato, como visto no vídeo acima, Ahed Tamimi chamou exatamente por esse tipo de violência.
Senso comum
Em que lugar do mundo é permitido atacar um soldado ou um policial?
Nosso editor sênior e advogado, Daniel Pomerantz, diz:
Eu sou de Chicago… Se você tentar isso em um policial de Chicago, de Nova York, de Moscou, você terá sorte se escapar inteiro.
Mas Ahed Tamimi realmente escapou por inteiro, ilesa e até mesmo intacta, dada a não-reação dos soldados. Ela está agora no tribunal, enfrentando acusações específicas por seus atos e representada por um advogado proeminente.
Esteja certo de que você está recebendo o contexto por inteiro quando encontrar manchetes que enfatizam a narrativa palestina.
Featured image: Flash90
